Azimuth


Sergio Fazenda Rodrigues, 2018


I

Pedro Vaz shows a Video, a set of small objects and a group of big format paintings, held together by an idea of landscape and an expedition taken to the the top of Serra da Estrela ridge.

The works presented by the artist mention a contemplative relation with the surrounding and approach us to a field located beyond the visible. In truth, Vaz aspires something reporting the direct experience of place, the way in which it communicates and the memory which can be kept from it. Taking us close to the experience of a path and to a path to experiencing, the author grounds that accomplishment in a wider recognition, graspable by reasoning, by the senses and also by intuition. Being so, that’s the manner by which, while focusing on the existence and manifestation of landscape, his work focuses as well on the reverberation taking place in ourselves, or in the way it internally follows us.

II

Landscape is a permanently reinvented theme over history. Nowadays, it is current for us to ask ourselves about what it is, when does it take place and how it works, questioning also its condition as artistic object as well as the specificity of the place which gives form to it. In this process, which turned particularly expressive in 20th century´s last quarter, many interventions take place directly at the field, developing something that, latter, is presented at the gallery. One shall say that there is an action and a record then, which speculates and documents, taking the art work beyond the exhibition place.

With a similar sensibility, the works presented relate to the anticipation of a rout, its experience and expansion. But, contrary to what is usual, they are not alone the report of an event or an action. Instead, they are the act of sharing an extended experience, left open, which intercepts the visitor at the exhibition.

III

Over the gallery, one rehearses a path between a valley area and a mountain top. That is a pendulum movement, of search, which guides us in space, meeting each element. There, as well as on site, we roam amongst certainties of scientific rigour and hesitations of a sensible reading. Likewise, landscape sets on problematizing by the means in which image and memory interim.

The technical means used by the artist to hold the form include to make use of a washing of the painting, or a thinning out of the excess remaining on it. So, referring the image to the undefined field of ambivalence or impression, the memory is operated, while both as filter and anchor of an experience that lasts in time.

In his works there is an understanding of territory which lays on an amplified perception. A perception which is cultural (and so being, specific), but which, for being whole and collective is as well transversal. A perception which grounds an experience of spiritual sort, by means of an idea of (re)connection to whats surrounding.

In it, the ablution of painting is a defocus of the image, but also a vivifying of memory, pushing the work off an illustrative mind-set, to bring it to a sensitive sphere, wider and more all-embracing.

The azimuth to which Pedro Vaz refers, is then not alone the one belonging to the coordinates of a walk on site. It is, as well, the one drawing the line of an interior pathway, which aids disclosing something beyond.


Azimute


Sergio Fazenda Rodrigues, 2018


I

Pedro Vaz exibe um vídeo, um grupo de pequenos objectos e um conjunto de pinturas de grande formato, ligados a uma ideia de paisagem e a um percurso realizado nos picos da Serra da Estrela.

As obras que o artista apresenta reportam-se a uma relação contemplativa com o meio e acercam-nos de um plano que está para além do que é visível. Na verdade, Vaz ambiciona algo que invoque a experiência directa do local, a forma como este comunica e a memória que dele se pode guardar. Aproximando-nos da vivência de um caminho e de um caminho de vivências, o autor funda essa experiência num reconhecimento abrangente, apreensível pelo raciocínio, pelos sentidos e, também, pela intuição. Assim, é por essa via que o seu trabalho, ao incidir na existência e na manifestação da paisagem, incide também na reverberação que em nós se cria, ou no modo como ela internamente nos acompanha.

II

A paisagem é um tema constantemente reinventado ao longo da História. Hoje, é corrente questionarmo-nos sobre o que ela é, quando existe e como funciona, contestando também a sua condição de objecto artístico e a especificidade do espaço que a enforma. Nesse processo, que se tornou particularmente expressivo desde o último quartel do século XX, muitas intervenções surgem directamente no território, desenvolvendo algo que, posteriormente, se apresenta na galeria. Dir-se-ia, então, que há uma acção e um registo, que especula e documenta, deslocando a obra de arte para lá da sala da exposições.

Com uma mesma sensibilidade, as obras que aqui nos são apresentadas, ligam-se à preparação de um trajeto, à sua vivência e à sua expansão. Mas, contrariamente ao que é comum, elas não são apenas o relato de um evento ou de uma acção. São, antes, a partilha de uma experiência prolongada, deixada em aberto, que se cruza com o visitante, na exposição.

III

Ao longo da galeria, ensaia-se um caminho entre uma zona de vale e uma zona de cume. Esse é um movimento pendular, de procura, que nos guia no espaço, ao encontro de cada elemento. Aí, tal como no local, deambulamos entre as certezas de um rigor científico, e as hesitações de uma leitura sensível. Analogamente, a paisagem problematiza-se pela maneira como a imagem e a memória se intercalam.

O processo que o artista utiliza para reter a figura, passa pela lavagem da pintura, ou pela diluição do que nela está em excesso. Assim, remetendo a imagem para o campo indefinido da ambiência ou da impressão, trabalha-se a memória, como filtro e âncora de uma experiência que se demora no tempo.

Nas suas obras há uma compreensão do território que assenta numa percepção ampliada. Uma percepção que é cultural (e como tal, específica), mas que, por ser inteira e conjunta é, também, transversal. Uma percepção que estrutura uma experiência de pendor espiritual, que passa por uma ideia de (re)ligação ao meio. Nela, a ablução da pintura é um desfocar da imagem, mas é também um avivar da memória, afastando a obra de uma lógica ilustrativa para a trazer a uma esfera sensitiva, mais vasta e englobante.

O azimute a que Pedro Vaz então alude, não é apenas aquele que pertence às coordenadas de uma caminhada no terreno. É, também, aquele que marca a linha de um percurso interior, que nos ajuda a descobrir algo mais além.

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