Landscape - Fog - Atmosphere
Adriana Veríssimo Serrão, 2015
One of the greatest problems facing the Landscape philosophy today is the elaboration of a sufficiently clear category that allows each landscape to be established as a unique place in the world, thereby safeguarding the whole set of its own characteristics.
The the magnitude of this problem is such that: on the one hand, it is necessary to think of the singular existence of this landscape without reducing it to universal concepts in which it loses its identity and is merely a case, amongst others, of a generic definition; on the other hand, one has to think of the singular existence of this landscape without reducing it to a simple view, panorama or scenario confined to the visual angle of those who observe it.
The Neblinas de Pedro Vaz offer themselves as one of those ways of unification that aim at restoring the truth of landscapes without projecting on them states of mind, personal taste, imaginary associations or idealizations. Inscribed in a patient work of exploration in situ, and inserting himself in a movement of approach to the real things, these pictures are not representations that would change or beautify, or even replace if the object represented, as presentations of a pure vision that invites us to go there. Art, which has so often rivaled nature, is largely free from this temptation here. Noninvasive, it cooperates with places in a continuous heuristic of multi-qualitative singularities.
The idea of Mist, however diffuse and ephemeral, seems, to contradict this more objective than subjective view, which seeks to restore the unchanging and consistent identity of a particular place - here, the Alps surrounding Mont Blanc. If we understand it only as a artificial device, we will be led to analogy with the veils that deceive and undo the object under chromatic games, and vanish it in modulations of light and fleeting optical impressions.
But this will certainly not be the finest interpretation, when the Mist becomes central protagonist that allows to multiply atmospheres like other faces of a place inaccessible in totality and giving itself always in perspectives, like the atmospheric phenomenon, being though an accidental occurrence, does not cover the landscape but only goes successively coloring in multiple different shades.
Two mentions should be made regarding the relation of landscape and atmosphere in the lived experience of the landscape.
The first is by Georg Simmel, who identified Stimmung as the apprehension of distinct elements in a homogeneous unity in which they merge. The feeling of this unity does not develop from an inner state, resides in the intimacy of the beholder, emerges with a sense of harmony between two distinct poles, which at times seem to form one. Landscape is the meeting point of Humans and Nature.
More recently, Gernot Böhme, saw in the perception of atmospheres the uniqueness of our relation with landscape and, complementarily, in the creation of atmospheres one of the specificities of the contemporary art. In both, the aesthetic experience is global, not predominantly visual but essentially synesthetic. A game of perceptions that defies you.
Pedro Vaz's Mists are, each one in their own way, answers, spoken in silent language to the problem of the essence of Landscape as the identity of each place. The immersion in these landscapes requires the presence a body that lives in them, but under the Mist, temporal operator, the crossing of the finite space with the infinite temporality of Nature is perceived.
Paisagem - Neblina - Atmosfera
Adriana Veríssimo Serrão, 2015
Um dos maiores problemas que se coloca hoje em dia à filosofia da Paisagem é a elaboração de uma categoria suficientemente nítida que permita instituir cada paisagem como um lugar único do mundo, salvaguardando por essa via o inteiro conjunto das suas características próprias.
Compreende-se a amplitude deste problema: por um lado, há que pensar o ser singular desta paisagem sem o reduzir a conceitos universais nos quais perde identidade e devém mero caso, entre outros, de uma definição genérica; por outro, há que pensar o ser singular desta paisagem sem o reduzir a uma simples vista, panorama ou cenário confinado ao ângulo visual de quem a observa.
As Neblinas de Pedro Vaz oferecem-se como uma dessas vias de unificação que almejam a restituição da verdade das paisagens sem projectar sobre elas estados de ânimo, gosto pessoal, associações imaginárias ou idealizações. Inscritas num paciente trabalho de exploração in situ, e inserindo-te num movimento de aproximação às coisas mesmas, estes quadros não são representações que viriam alterar ou embelezar, ou mesmo substituir-se ao objecto representado em fundo, quanto apresentações de uma visão pura que nos convida a ir até lá. A arte, que tantas vezes, rivalizou com a natureza, está aqui em grande medida liberta dessa tentação. Não invasiva, coopera com os lugares numa continuada heurística de singularidades multiqualitativas.
A ideia da Neblina, por difusa e efémera, parece porém contradizer esta visão mais objectiva do que subjectiva, que visa restituir a identidade estável e consistente de um lugar determinado – aqui, os Alpes que circundam o Mont Blanc. Se a entendermos apenas enquanto artifício plástico, seremos conduzidos à analogia com os véus que iludem e desfazem o objecto sob jogos cromáticos, e o esfumam em modulações de luz e impressões ópticas fugidias.
Mas não será certamente esta a interpretação mais ajustada, quando a Neblina se torna protagonista central que permite multiplicar atmosferas como outras tantas faces de um lugar inacessível em totalidade e dando-se sempre em perspectivas, tal como o fenómeno atmosférico, sendo embora uma ocorrência acidental, não tapa a paisagem mas apenas a vai sucessivamente colorando de múltiplas tonalidades diferentes.
Duas menções devem ser feitas ao enlace de paisagem e atmosfera na experiência vivida da paisagem.
Uma a Georg Simmel, que identificou a Stimmung como apreensão de elementos distintos numa unidade homogénea em que se fundem. O sentimento desta unidade não decorre de um estado interior, residente na intimidade do contemplador, mas emerge neste como sensação de harmonia entre dois pólos distintos que, por momentos, parecem formar um só. Paisagem é o ponto de encontro do Homem com a Natureza.
Mais recentemente, Gernot Böhme, viu na percepção de atmosferas a particular forma da nossa relação com a paisagem e, complementarmente, na criação de atmosferas uma das especificidades da arte contemporânea. Em ambas, a experiência estética é global, não predominantemente visual mas essencialmente sinestésica, um concurso de sensações que dá que pensar.